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Este pai construiu um estádio de futebol de botão para a filha

por Fernanda de Lima

Diga oi para Alexandre Washington Campos Jr. e sua filha, Joana.

Joana passava as férias escolares com seu pai Alexandre quando perguntou a ele sobre sua brincadeira favorita quando era criança. “Falei do futebol de botão e ela pediu para que a ensinasse”, contou ele ao Guia dos Estádios.

Ele mora em Belo Horizonte e ela em Montes Claros, Minas Gerais, e Alexandre trabalha como arquiteto. Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr

“Futebol de botão era uma coisa da qual gostava muito quando criança, adolescente. Lá pelo início dos anos 80, jogava muito nos recreios da escola com dois ou três colegas, com meus primos e com um de meus tios. Era uma das minhas maiores diversões.”

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Para responder, Alexandre voltou no tempo, a uma época em que sua mãe construía cenários de Playmobil com cartolina para ele e seus irmãos, em intervenções que deixavam a brincadeira mais real. “Carreguei a vida inteira o sentimento de fazer igual quando tivesse filhos”, conta ele.

Para aproveitar os momentos juntos, Alexandre e sua filha adotaram algumas tradições, como a batalha de desenhos. Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr

A mãe de Alexandre teve a ideia de construir as maquetes para os filhos a partir da referência de seu irmão, que estudava arquitetura. Alexandre também tornou-se arquiteto e espelhou-se na mãe para levar as maquetes para sua relação paterna e responder a pergunta da filha da melhor maneira possível: fazendo Joana vivenciar a brincadeira.

Assim, em 2015, ele saiu para comprar dois times de futebol de botão para juntar a alguns de seus materiais de trabalho e dar início a um projeto inusitado: a construção de um estádio de futebol de botão.

Este estádio de futebol de botão:

estádio de futebol de botão
Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr

Eles começaram a construção do estádio à tarde e atravessaram a madrugada na obra, desenhando, cortando e colando. O estádio foi construído com papelão calandrado, muito usado para fazer maquetes na faculdade de arquitetura. Com certa resistência, este tipo de papelão é maleável e adere bem à cola escolar.

Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr
Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr
Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr
Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr

A Polly Arena Mini-eirão ficava “localizada” na sala da casa de Alexandre em Belo Horizonte, e foi “demolida” dois anos depois. Na data de construção do miniestádio, Alexandre tinha acabado de se separar da mãe de Joana, mas a relação de pai e filha se mantinha forte, apesar de separados por mais de 400 km de distância. A arena contava com área de esplanada, bilheteria, segurança, arquibancada de cinco lances e campo oficial de futebol de botão. Brasil e Espanha – por falta de bons botões do Atlético-MG nas lojas – fizeram o jogo de abertura.

Estádio de futebol de botão
Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr
Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr

“Conseguimos jogar bem. Tirando a falta de habilidade inicial dela, deu tudo certo. Entendeu as regras direitinho, pegou os macetes.”

Times a postos e torcida pronta para o pontapé inicial da Polly Arena Mini-eirão | Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr

Joana conta que se lembra de todos os detalhes daquele dia. “Nós tentamos
fazer uma espécie de releitura do Mineirão, mas me lembra muito
arquibancada de estádios americanos também.”

Ela tem razão:

Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr
Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr

As bonecas – e bonecos – de Joana faziam parte do espetáculo e não estavam ali de enfeite, tinham papel bem definido e importante para traçar um elo de ligação entre brincadeiras de gerações distintas e de uma luta que ainda é travada, a de gêneros diferentes.

Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr
Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr

Alexandre conta que quando ele e Joana moravam juntos, eles costumavam jogar muita bola, jogos de tabuleiro, brincar de escolinha, de boneca, além de fazer trabalhos de escola e desenhos juntos. Por causa de sua profissão, ele sempre trabalhou bastante em casa e Joana acompanhou seus projetos e desenhos de perto. “Ela sempre pedia para ‘trabalhar’ comigo. O resultado é que ela registrou a infância dela quase toda por desenhos, desde muito cedo. Isso é muito bacana. Hoje em dia é uma excelente desenhista.”

Ele também tem razão:

Aos quatro anos Joana já mostrava seu talento com as canetinhas | Foto: cortesia Alexandre Washington Campos Jr

Se para Alexandre, aquele momento representou sua realização como pai, para Joana não foi diferente. “Sempre fomos muito grudados e próximos, sempre tivemos ideias malucas de invenções ou coisas para fazer, mas esse dia representou uma conexão entre nós dois, fizemos coisas que gostamos e ficamos juntos o tempo todo”. Assista um trecho da partida:

Além do desenho, Joana absorveu alguns gostos do pai, como a torcida pelo Galo e o gosto pela banda A-HA.

Joana (esquerda) entrando em campo com Ronaldinho Gaúcho em jogo do Galo | Foto: Reprodução

A paixão de Alexandre por estádios teve início com seu pai, que era fanático pelo Atlético-MG e que, para não mencionar o nome do Cruzeiro, referia-se ao rival apenas como o “time do Barro Preto”, bairro onde fica a sede cruzeirense em Belo Horizonte.

Ele se gabava dizendo que a primeira palavra que falei não foi papai nem mamãe, e sim, Galo! Aposentou-se pelo Banco do Brasil e odiava ter que lidar com ‘cruzeiros’ todos os dias, quando essa era a nossa moeda…

Com tudo isso, Alexandre começou a ir ao estádio muito cedo, com cinco ou seis anos de idade. “O maior sentimento de proteção que tenho com relação a ele é de quando íamos ao Mineirão abarrotado e ele me carregava no colo para entrarmos pelos portões em meio à multidão se espremendo. Isso aconteceu inúmeras vezes. Eu achava ele foda!”

Numa época em que andar pelo centro de BH ainda era possível, por volta dos 13 anos, Alexandre voltava de uma aula de datilografia quando viu um postal do Mineirão numa banca de jornal. “A foto é espetacular, com o estádio lotado e milhares de carros coloridos em volta dele.

Foi a primeira foto aérea que me lembro de ter visto de um estádio. Fiquei maluco de pensar que era ali dentro que eu já tinha estado tantas vezes. Dali pra frente foi ‘ladeira abaixo’: a nerdice do adolescente apaixonado por futebol procurou conhecer todos os tipos de estádio que aparecessem. Numa época sem internet isso se resumia a colecionar revistas Placar, recortar as fotos panorâmicas, gravar jogos de futebol que tinham tomadas aéreas, etc.

Foi inclusive a partir de uma matéria da Revista Placar sobre postais de estádios, que Alexandre começou sua própria coleção, feita por meio de troca de correspondências. Ele possui mais de 3.000 postais. O destaque da matéria era Leonardo Romano, fundador da SOCOPE – Sociedade de Colecionadores de Postais de Estádios.

Edição da Revista Placar com a matéria que inspirou Alexandre a colecionar postais | Foto: Reprodução


Quando a arquitetura tornou-se mais sólida em sua vida, Alexandre passou a enxergar os estádios de maneira mais técnica e não somente com o coração. Dentre os estádios que mais admira a arquitetura está o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, em São Paulo.

Adoro o Pacaembu, principalmente a ideia que o concebeu como um centro de entretenimento para a cidade: o estádio propriamente dito, a antiga concha acústica, os ginásios de tênis e de futsal, vôlei, a piscina… O formato de ferradura das arquibancadas e a fachada art-decó.

Não preciso de muito para concordar:

Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu | Foto: Fernanda de Lima / Guia dos Estádios

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