A história do estádio da Av. Angélica que ficava dentro de uma das propriedades mais icônicas de São Paulo, a Chácara Vila Maria
Para falar deste estádio temos de contar a história de uma das mulheres mais importantes da história da cidade de São Paulo, Dona Veridiana, Veridiana da Silva Prado. Filha de Antônio Prado, dono do título de Barão de Iguape, Veridiana foi mãe do primeiro prefeito de São Paulo, que tinha o mesmo nome do avô. O casamento com seu meio-tio – ato comum na época, fez com que o nome da família Prado se firmasse ainda mais, inclusive com forte presença de seus filhos na política.
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Para a sociedade, Dona Veridiana era uma mulher à frente de seu tempo. Com uma separação do marido, aos 53 anos, ela adquiriu um terreno em seu próprio nome, na antiga Rua de Santa Cecília (hoje Rua Veridiana, em sua homenagem) até a atual Av. Angélica, com divisa entre a Av. Higienópolis e a atual Rua Jaguaribe, onde construiu uma mansão inspirada na arquitetura francesa. Como conta Luiz Felipe Dávila, no livro “Dona Veridiana – A trajetória de uma dinastia paulista”, a propriedade contava com belos jardins e um campo de futebol. O lugar recebeu o nome de Chácara Vila Maria.
Além de eventos culturais, Dona Veridiana patrocinava eventos esportivos, como corridas de bicicleta e futebol. O palacete ainda existe na Av. Higienópolis, ainda que boa parte tenha sido loteado para ampliação do bairro. O terreno da Chácara Vila Maria foi comprado após o retorno de dona Veridiana de uma viagem à França, na década e 1870. A obra foi concluída em 1884 e, em uma visita da Princesa Isabel, ela assim a descreveu:
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Jornal Correio Paulistano de 19 de novembro de 1884
A antiga Vila Maria existe até hoje e é sede do Iate Clube de Santos (foto em destaque no topo da matéria). Após ser adquirido pelo Iate Clube, o palacete é utilizado para eventos. Nota-se pela comparação entre o passado e o presente, que a construção ainda está intacta, mas foi bastante modificada, principalmente o espaço do jardim.
Mas e o estádio?
Na busca por estádios demolidos em São Paulo, cheguei a este da Av. Angélica, possivelmente localizado no palacete de Dona Veridiana, através da Associação Athletica das Palmeiras, clube paulista extinto em meados dos anos de 1930.
A A.A. das Palmeiras foi fundada em 09 de novembro de 1902 e conquistou três campeonatos paulistas, os de 1909, 1910 e 1915. Ao contrário do Palmeiras mais conhecido de hoje, este clube ostentava as cores preta e branca. Além disso, era considerado um time para membros da elite paulistana, aceitando como jogadores apenas doutorandos, bacharéis e engenheiros. Os relatos de pesquisa dizem que seu primeiro campo ficava na Av. Angélica, onde só havia chácaras e terrenos vazios. A partir daí passei a pesquisar sobre campos de futebol situados na Av. Angélica a partir de 1900.
O único indício de um campo de futebol naquela época aparece na Chácara Vila Maria, onde foi construído também o Palacete de Dona Veridiana. Ao que tudo indica, a A.A. das Palmeiras permaneceu ali por pouquíssimo tempo, pois em seu primeiro título, o clube já mandava seus jogos na Chácara da Floresta, onde hoje fica o Centro Esportivo Tietê. Em 1930, depois de não se adaptar à profissionalização do futebol, a Associação Athletica das Palmeiras acabou sendo extinta. Essa extinção culminou na união de profissionais e dirigentes do clube com o C.A. Paulistano, que deram origem ao São Paulo Futebol Clube.
Ainda bastante em dúvida, fui buscar pelos termos Veridiana, campo e Associação Athletica das Palmeiras na Hemeroteca Digital Brasileira que reúne jornais e periódicos históricos. Durante o ano de 1903, os jornais utilizam o termo “o campo da Associação Athletica das Palmeiras” para definir o local onde o clube jogava, como na edição de 05 de outubro de 1903 do jornal “Correio Paulistano”, em que, na seção “Sport”, diz:
No match jogado hontem no campo da Associação Athletica das Palmeiras, entre os segundos teams desta associação e do Club Athleticano Paulistano, foi o vencedor o Paulistano, por 3 goals a 2.
Claramente, pelas descrições posteriores, este não era nenhum dos campos em que o das Palmeiras viria a jogar, pois nos jornais daquele mesmo ano e dos anos subsequentes, os campos são descritos com nomes próprios, como Campo do Velódromo, da Chácara da Floresta e Parque Antarctica, este dois últimos, inclusive, descritos logo abaixo do relato de jogo entre das Palmeiras e Paulistano.
Assim, apesar da incerteza, o relato do livro “Dona Veridiana – A trajetória de uma dinastia paulista”, parece ser o indício mais contundente de que o primeiro campo de futebol em que a Associação Athletica das Palmeiras jogou estava mesmo dentro de sua propriedade.
Serviço:
Antiga Casa de Dona Veridiana / Sede do Iate Clube de Santos
Avenida Higienópolis, 18, Higienópolis – São Paulo-SP