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O dia em que viajei com um cambista

por Fernanda de Lima

Segui de Porto Alegre para Pelotas, no Sul do país, ao lado de um cambista

Saí de Porto Alegre na segunda-feira (26) para Pelotas para visitar os estádios do Grêmio Esportivo Brasil e Esporte Clube Pelotas.

Tomei o ônibus das 13h na Estação Rodoviária Central em Porto Alegre pela empresa Embaixador. À minha frente na fila de embarque estava um homem de 32 anos, como me contou mais adiante. Já sentada na poltrona 25 não teve como evitar ouvir a conversa ao telefone deste mesmo homem que ficou na poltrona imediatamente atrás da minha.

Ele falava ao telefone com a mulher, depois com a tia, depois com a sobrinha, depois com alguém que parecia amiga da mulher. Poucos minutos depois, ele falava com colegas que encontraria em Pelotas mais tarde, no mesmo jogo que eu iria naquela segunda-feira: Brasil de Pelotas x Villa Nova de Goiás.

Era o primeiro jogo depois do acesso do clube gaúcho à Série B do Campeonato Brasileiro. A promessa era de casa cheia. Sozinha na viagem, me virei quando ele deixou de lado o telefone e perguntei: “você vai ao jogo?”. Ele disse que sim e engatamos uma conversa.

Em seguida sentou-se ao meu lado, se apresentou como Ronaldo e começou a falar o que fazia:

Sou cambista. Trabalho em vários eventos. Esse vai ser um bom jogo”.

Eu não imaginava que se falasse tão abertamente sobre isso. Mas ele continuou. Quando eu disse que era de São Paulo, ele revelou que trabalharia num grande evento de dois dias que aconteceria em São Paulo em novembro mas que nem sabia do que realmente era. Conversamos sobre a oportunidade de viajar, conhecer lugares e fazer isso sozinhos, sobre a preocupação dos meus pais, sobre os estádios que estou visitando, e sobre a profissão que escolhi. E então, ele parou de falar. Uma jornalista já não era tão interessante para ele.

Depois de um “foi um prazer”, ele voltou para a sua poltrona e não falou mais desinibidamente ao telefone. Tive de “forçar” os ouvidos para ouvi-lo dizer “o pacote está na casa dele” para alguém do outro lado da linha.

Dali em diante não nos falamos ou nos esbarramos mais. O homem que estava atrás de mim evaporou no desembarque na rodoviária de Pelotas. Na bilheteria do Estádio Bento Freitas, eu também não o vi. Mas cambistas agiam aos montes, a dois passos da bilheteria, sem pudor algum.

Foto: Fernanda de Lima / Guia dos Esportes

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