Conheça o Stadium Dr. Lauro de S. Lima, um estádio fora do mapa em Guarulhos
Se tem uma cidade brasileira que remete imediatamente à viagem, essa cidade é Guarulhos, em São Paulo. O maior aeroporto do País te leva para destinos dos sonhos, mas pouco se fala da própria cidade. Quem não é de Guarulhos, mal sabe os segredos que ela esconde.
Futebolisticamente falando, ela não é referência. Seu time de futebol principal, o Flamengo de Guarulhos, está, em 2021, na Segunda Divisão do futebol paulista. Por ser o clube mais bem estruturado da cidade, o Flamengo-SP é também o principal mandante do único estádio de futebol oficial da cidade, o Municipal Antônio Soares de Oliveira, que recebe frequentemente jogos da Copa São Paulo de Futebol Junior. O estádio, apelidado de “Ninho do Corvo”, em alusão ao mascote do Flamengo, fica no bairro Jardim Tranquilidade. Mas este não é o único local onde a bola rola em Guarulhos, ao menos não oficialmente.
A poucos metros do Ninho do Corvo, está o Stadium Dr. Lauro de Souza Lima, um estádio abandonado pelo poder público e tomado pela comunidade e futebol de várzea do bairro da Gopouva.
A língua inglesa não está presente somente no nome do estádio, mas também em seu endereço. Localizado na Rua Francisco Foot, o estádio foi tomado pela comunidade local. Não há como chegar à arquibancada sem passar por dentro dela. Se por um lado, a tranquilidade parece fazer justiça ao nome do bairro vizinho, o interior se mostra mais hostil a quem é de fora. No Stadium Dr. Lauro de S. Lima, não se entra se não é estranho, por isso, é altamente recomendado fazer uma visita apenas com alguém da própria comunidade.
Verdade seja dita, o abandono da praça esportiva só não é maior pelo acolhimento por parte da comunidade e do futebol da várzea guarulhense. O Stadium Dr. Lauro de S. Lima, apesar de quase centenário, perdeu espaço para o caçula Antônio Soares de Oliveira. Enquanto o segundo recebeu milhões em investimento, o outro caiu no completo esquecimento.
Apesar do abandono, algumas referências deste estádio tombado como patrimônio histórico ainda permanecem no local, como o imponente portão de ferro na entrada principal do estádio e também a arquibancada, que destaca-se pelo clássico estilo inglês. Seu nome é uma homenagem ao Dr. Lauro de Souza Lima, referência mundial no tratamento da hanseníase, conhecida antigamente como lepra.
Do outro lado da rua, em frente ao portão de ferro do estádio, está o Teatro Padre Bento, um nome bastante conhecido na região. Padre Bento também se chamava o Sanatório do qual este mesmo estádio fazia parte, hoje conhecido como Complexo Hospitalar Padre Bento. Inaugurado em 1936, atualmente o complexo se separa do estádio.
À época de sua construção, o estádio possuía medidas oficiais e fora pintado com as cores branca e preta, uma homenagem ao time de coração do Dr. Lauro, o Sport Club Corinthians Paulista.
O campo de esportes do Sanatório Padre Bento servia como um alento para os pacientes com hanseníase isolados nas casas do complexo. O local fazia parte de um conjunto de unidades integrantes da política de tratamento da doença entre 1930 e 1950 no Estado de São Paulo. O enfrentamento estabelecia que os doentes fossem isolados da sociedade, então criava-se uma espécie de cidade murada para os leprosos.
De acordo com o CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, parte do Complexo Padre Bento está entre os patrimônios históricos de São Paulo, juntamente ao Stadium Dr. Lauro de S. Lima.
Vale ressaltar que o complexo em sua totalidade se desfez em “pequenos pedaços” e não é mais tão amplo quanto antes. Parte dele foi para construção de um conjunto habitacional, localizado na parte posterior da arquibancada, outra para a a FURP – Fundação para o Remédio Popular, outra para a construção do Bosque da Saúde, entre outras instalações.
Na data da minha visita ao estádio, em janeiro de 2021, acontecia um jogo da várzea guarulhense.