De todos os estádios do ABC Paulista, o Anacleto Campanella é o mais famoso. Essa foi a minha primeira visita à casa de um time que ficou marcado na história recente do futebol brasileiro
A Associação Desportiva São Caetano é uma menina, mais nova do que eu, inclusive. O clube nasceu em 1989, em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo e integrante do chamado ABC Paulista, ou ainda ABCD paulista, grupo composto por outras três cidades, Santo André, São Bernardo e Diadema. Para quem quiser destrinchar completamente a região do ABC, pode estender a sigla muito além do D, compreendendo também os municípios de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Ao pensar no futebol dessa região, e também em estádios, certamente o Estádio Municipal Anacleto Campanella salta aos olhos, ou melhor, à memória.
Quase 20 anos depois de um dos capítulos mais empolgantes da história recente do futebol brasileiro, visitei o estádio Anacleto Campanella, relembrando uma época em que o Azulão era temido pelos grandes clubes, alcançando o feito de ser duas vezes vice-campeão brasileiro e uma vice da Libertadores da América. O início dos anos 2000 foi algo inimaginável para os torcedores do São Caetano e, é claro, para os adversários. O título acabou vindo em 2004, num Campeonato Paulista. Fui uma das pessoas que acompanhou de perto o São Caetano durante aqueles metóricos quatro anos, com receio pelo meu próprio time e ao mesmo tempo com admiração pelo Azulão.
Os mais novos talvez não conheçam esta história, mas foi na pitoresca Copa João Havelange que o São Caetano começou a amedrontar os adversários. Integrante do Módulo Amarelo, o que era equivalente à Segunda Divisão, o time perdeu a final para o Paraná, iniciando ali sua fase de vice-campeonatos memoráveis. Este vice colocou o time no mata-mata da Copa João Havelange e frente a frente com os grandes do futebol nacional. O São Caetano venceu e eliminou clubes como Palmeiras, Grêmio e Fluminense, este num Maracanã lotado. Neste mesmo Maraca, a equipe ficou com o vice ao perder para o Vasco na final.
Em 2001, a história se repetiu, vice-campeão do Campeonato Brasileiro. E em 2002, talvez o vice mais doído, o da Libertadores da América, em que o São Caetano perdeu para o Olímpia do Paraguai em disputa de pênaltis. Aquela derrota doeu em todos que torciam pelo futebol brasileiro. Naquele ano, enfim, dizer que uma equipe nacional era o Brasil na Libertadores fazia sentido – mas certamente não para os adversários diretos, como o rival Santo André. Após a conquista do Estadual em 2004, a história começou a mudar e os feitos já não foram tão grandiosos como nos anos anteriores.
Percebeu que não mencionei nenhum estádio nestas conquistas do São Caetano – sim, os vices foram conquistas e não tem como descreditar isso -, nem mesmo o próprio Anacleto Campanella? Não mencionei porque os grandes jogos, à exceção da final contra o Atlético-PR, pelo Brasileirão de 2001, não foram disputados por lá. E, para mim, o mais impressionante está aí: mesmo a maioria dos jogos marcantes da história do clube não ter acontecido ali, o São Caetano colocou o Estádio Municipal Anacleto Campanella na lista de um dos estádios de média e pequena capacidade mais conhecidos do país.
O estádio
Como segue a tradição dos estádios da região do ABC Paulista, o estádio tem nome de político. Anacleto Campanella foi prefeito da cidade entre as décadas de 1950 e 1960, muito antes da fundação do São Caetano. Vale ressaltar que além de Anacleto Campanella, o estádio também atendeu pelo nome de Estádio Municipal Lauro Gomes de Almeida por alguns anos. Não importa o nome, uma coisa não mudou: o estádio é e continua sendo municipal.
Inaugurado em 2 de janeiro de 1955, o estádio é utilizado pelo São Caetano, a única equipe profissional da cidade, desde o ano de fundação do clube. Como o São Caetano não existia naquela época – ao menos não como a instituição existente hoje, o jogo de abertura do estádio se deu com um São Bento de São Caetano 1 x 0 XV de Piracicaba. Sem me aprofundar muito, vale dizer que o São Bento, fruto de uma fusão, era a única equipe de futebol profissional do município de São Caetano do Sul naquela época. Ainda anterior ao São Caetano, o estádio teve o Saad Esporte Clube como mandante por 10 anos. De acordo com o Cadastro Nacional de Estádios de Futebol da Confederação Brasileira de Futebol – a CBF, o Anacleto Campanella tem atualmente capacidade para 16.744 pessoas, mas segundo o site oficial do clube, essa capacidade é de apenas 14.400. Com sistema de iluminação, o estádio está apto para receber partidas noturnas e, para quem admira estas estruturas, é possível contemplar as torres de iluminação tanto de dentro quanto de fora do estádio.
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Para visitar o Anacleto Campanella, entrei em contato com o clube social e posteriormente com a assessoria do São Caetano. Como eu sabia que este não seria um estádio que eu encontraria aberto a qualquer momento, preferi não arriscar a viagem. Uma curiosidade: quando liguei na sede social do São Caetano fui atendida por um senhor que ao final da ligação me agradeceu pelo meu trabalho ao valorizar os estádios.
É muito importante esse seu trabalho, minha filha”, ele disse.
Eu não esperava por esse elogio genuíno ao tentar buscar informações de como e quando eu poderia visitar àquela que muito provavelmente é a casa dele há muitos anos. Agradeci emocionada e só percebi muito depois que não gravei o nome que ele me disse no início do telefonema. Talvez um dia eu vá à sede em busca dele. Realmente foi especial para mim.
Marquei com a assessoria de conhecer o estádio num sábado pela manhã, às 11h para ser exata. Cheguei, dei a volta no estádio em busca de algum portão aberto, mas não tinha. Encontrei um pessoal da limpeza na entrada principal do Complexo Lauro Gomes de Almeida, onde também está localizado o estádio, e fui orientada para seguir até o portão 3 onde estava o segurança do estádio. Bati no portão e ele abriu para que eu adentrasse pela primeira vez no icônico Estádio Municipal Anacleto Campanella, o solo sagrado do Azulão. O céu, por sinal, colaborou com o apelido e estava tomado pela cor azul.
Andei pelo Anacleto Campanella acompanhada do segurança do estádio que trabalha por lá desde 2004. Conversamos bastante sobre estádios, quais os mais legais e os mais difíceis que visitamos até aqui. Ele me contou que não possui redes sociais porque, como segurança de estádio, é perigoso manter um perfil na internet. Entendi perfeitamente e logo num final de um ano (2019) que mostrou que, apesar de ter sido excepcional com relação à média de público nos estádios brasileiros, o ambiente extremamente hostil segue sendo uma realidade e que é capaz de afastar torcedores de bem dos maiores estádios. Quem quer ir a um estádio sujeito a levar uma cadeirada na cabeça, ser ameaçado na saída ou se deparar com uma bomba vindo em sua direção? Ou quem quer ir a um estádio em que não se pode conviver pacificamente com um adversário? Ou ainda, onde não se é possível assistir a um jogo com dignidade se você não está ao lado do time da casa? Torcida única, barreiras, redes, barricadas, vandalismo (e eu não estou nem mencionando o racismo ou assédio). Normal não é, mas em determinados jogos parece que já sabemos o roteiro antes da bola rolar. Passaremos a escolher jogos pelos adversários? “Contra x dá pra ir, é tranquilo”, “Contra y nem pensar, é arriscar demais”. Falo isso como se já não estivéssemos fazendo isso…
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Lá no Anacleto Campanella, no auge dos meus elogios ao estádio, que está bem cuidado, comecei a pensar que talvez sejam os estádios menores a salvação do futebol brasileiro. Talvez quem tenha medo dos grandes recorra a eles pela simples possibilidade de assistir a uma partida de futebol. Não que em estádios menores isto não aconteça (no ABC, por exemplo, o ambiente num São Caetano x Santo André não é dos mais convidativos), mas, talvez, só talvez, o número de confrontos que parece ser de vida ou morte seja expressivamente menor. Escolher o menos pior está certamente entre nossas maiores derrotas.
Antes de escrever este texto fiz uma pesquisa no meu perfil do Instagram para comprovar que a minha tese de que o estádio de São Caetano e do São Caetano era o mais famoso da região do ABCD, o primeiro que vem à memória das pessoas quando se menciona a região. Tese comprovada principalmente pelos não-torcedores de nenhum dos clubes envolvidos, em que o Anacleto Campanella foi citado pela imensa maioria. E há de se pontuar que a minha certeza é quase que absoluta de que ser o mais conhecido não tem a ver com ser melhor ou pior que outros estádios, mas sim com as nossas lembranças mais fortes. Têm memórias que ficam e estádios que nos remetem a um passado que relembramos com um sorriso no rosto. Os mais jovens, num futuro não tão distante, talvez não saibam, mas o Estádio Municipal Anacleto Campanella é um destes!
O estádio possui área coberta com cadeiras, uma parede em homenagem aos times que marcaram a história do clube, camarote, cabine de imprensa, academia, que fica ao lado de um dos vestiários. Para os adversários, o São Caetano disponibiliza dois tipos de vestiários, um menor para os times menores e um maior para os times grandes. Esse vestiário maior conta bom banheiras de hidromassagem, armários, área de aquecimento com grama sintética e túnel subterrâneo que leva em direção ao campo. Nesta mesma área, estão salas para comissão técnica, setor de fisioterapia das equipes de base, vestiário para a comissão técnica e médico e, no andar de cima, secretaria, sala de imprensa e área para entrevistas. Já o alojamento para as equipes de base do São Caetano fica na sede social do clube. Nesta mesma sede está o clube social do São Caetano, além da sala de troféus da clube.
Assista o vídeo da minha visita ao Anacleto Campanella:
Quem for ao Anacleto Campanella vai notar que existe uma grande área vazia. Neste setor havia uma arquibancada que foi desfeita para a Copa do Mundo, período em que a seleção da Rússia treinaria ali. O dinheiro foi recebido pela prefeitura mas nunca foi feito nada no espaço, nem os treinamentos dos russos aconteceram. Esse área destruída da arquibancada atualmente serve de estacionamento improvisado para funcionários e familiares de jogadores em dias de jogos. O estádio não possui estacionamento para o público geral. Durante o passeio, além de todos os espaços mencionados acima, entrei também na sala de doping e subi as arquibancadas de aço, de onde é possível avistar as arquibancadas de concreto.
Em dias de jogos, os torcedores do São Caetano entram pelos portões 1 e 2 e os visitantes pelo portão 3.
Como chegar ao Anacleto Campanella
Estádio Anacleto Campanella – Avenida Walter Thomé, 64 – Olímpico
Telefones de contato: ( 11) 4232-4467 | 4232-0944
Estas são as linhas e rotas que param próximas ao Estádio Municipal Anacleto Campanella:
Trem: LINHA 10
Confira a melhor rota a partir do seu destino acessando este link aqui.
Ingressos
Para informações sobre ingressos para jogos no Anacleto Campanella, acesse o site oficial do São Caetano clicando aqui.