Além de piloto, Piero Gancia foi também presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, e lutou para que a modalidade crescesse no Brasil
O nome entrega a nacionalidade de Piero Vallarino Gancia. Italiano de nascença, o ex-piloto desembarcou no Brasil na década de 1950 para cuidar dos negócios de vinhos da família, mas ele marcou história mesmo no automobilismo brasileiro.
Um apaixonado pelos Alfa Romeos, Gancia foi de piloto a presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo. Um gentleman das pistas, ele correu boa parte da carreira com carros da marca, e com ela formou, inclusive, uma escuderia particular no Brasil, a Jolly Gancia, que chegou a ter José Carlos Pace – que dá nome ao Autódromo de Interlagos – como piloto.
Em 1966, o jovem de Turim, já adotado pelo Brasil, consagrava-se como o primeiro campeão brasileiro de automobilismo, numa competição que contava com três provas: 1000 km de Brasília, 500 km de Interlagos e 1000 km da Guanabara.
Antes de assumir o comando da Confederação Brasileira de Automobilismo, o piloto e empresário do ramo de bebidas, foi presidente da Associação Paulista de Volantes de Competição.
A paixão de Gancia pelo esporte a motor estendeu-se a sua esposa, Lulla, que aventurou-se em algumas provas na época, que chegavam a até 1000 km de disputa. E dizer apenas isto sobre a Senhora Gancia é muito pouco. Talvez o título “O que seria do Autódromo de Interlagos sem Piero Gancia?” fosse mais justo se fizesse referência ao casal.
Enquanto presidente da CBA (entre 1987 e 1991) e membro da Comissão da FIA, Piero foi um dos responsáveis pelo retorno do GP Brasil de F1 ao circuito de Interlagos, em São Paulo, em 1990. Gancia, aproveitou a insatisfação com com o circuito do Rio de Janeiro, que sediava o GP desde 1981, para convencer o então presidente da FIA, Jean Marie Ballestre, de que São Paulo era a melhor opção para sediar o GP Brasil.
Com o apoio da prefeita, na época, Luiza Erundina, foram realizadas reformas para capacitar Interlagos para a prova que, depois de 10 anos, colocava São Paulo novamente na categoria máxima do automobilismo mundial. Mas não havia sido a primeira luta de Gancia por melhorias em Interlagos. Ele lutou com unhas e dentes pela primeira reforma da história do autódromo, em 1960, 20 anos depois de sua inauguração. E foi Lulla Gancia a incumbida da reforma do circuito. Em depoimento à revista Vogue, em 2015, os três filhos do casal revelaram que a mãe “tirou dinheiro do próprio bolso” para viajar a Monza para aprender a fazer uma pista de primeiro mundo. Foi ela quem escalou e instruiu engenheiros sobre a adequação do asfalto, reforma dos boxes e construção de gradil de proteção.
Em 1998, Piero escreveu, em uma coluna no jornal Folha de S. Paulo, sobre o bom negócio que o GP Brasil, realizado no Autódromo de Interlagos, representava para a cidade:
Como um dos responsáveis por trazer o evento de volta à cidade, considero o Grande Prêmio não só um ótimo negócio como também uma forma de aprimorar a imagem do país no exterior.
O autódromo de Interlagos foi o berço de pilotos de nível internacional, entre eles três campeões mundiais, que lá iniciaram suas carreiras e trouxeram para o Brasil nada menos que oito títulos.
A cobertura televisiva do Grande Prêmio Brasil atinge 114 países e 340 milhões de pessoas, e, segundo a indústria de turismo, além das 1.600 pessoas pertencentes ao circo e dos 400 jornalistas que cobrem o evento, a Fórmula 1 atrai para a cidade cerca de 9.000 turistas de todo o país.
E é responsável pela arrecadação de US$ 20 milhões nos setores de hotelaria, transporte, restaurante, prestação de serviços, faturamento de comércio, serviço de saúde e telecomunicação.
Piero Gancia faleceu em 01 de novembro 2010, aos 88 anos, em decorrência das complicações do Mal de Alzheimer que sofria.